terça-feira, 9 de novembro de 2010

E o Lobato pagou o pato...

De tanto ler a respeito da proibição do conto de Monteiro Lobato, "Caçadas de Pedrinho", resolvi demonstrar minha indignação, usando  palavras. Como Pedagoga, lamento muito o ocorrido. A alegação para o tal veto se dá ao fato de, em alguns capítulos, o autor, nada mais nada menos que MONTEIRO LOBATO, o precursor da literatura infantil no Brasil, referir-se à personagem Tia Nastácia de forma preconceituosa.

Vamos lá, o que fazer, primeiramente, com as contextualizações históricas de todos os escritos mundiais? Ignorar o momento histórico ao qual foram escritos? Se assim se pensar, devemos dar adeus à própria História, pois as leituras e análises devem ser feitas sempre com um olhar para sua época. A sociedade precisou de muitos e muitos anos para se despir (ou tentar se despir) de preconceitos e demais agressões inculcadas por tanto tempo, por tantos fatos e vivências históricas. Na época em que foi escrito o livro, houve alguma contestação? Foi considerado preconceito racial? Pensemos.

Segundamente, analisemos o cenário do "Sítio do Pica-pau Amarelo", principalmente nós, os que cresceram lendo e ouvindo os contos de Lobato. Lembro-me da maneira divertida e carinhosa a que se referia a todos os personagens, inclusive a Tia Nastácia, demonstrando sempre o carinho maternal que tinha com todos da casa. Ela não era 'colocada' nas histórias como uma pessoa desprezada, muito pelo contrário, era valorizada e respeitada. Isto também deve ser levado em consideração. Não se deve ler uma frase ou outra isoladamente, desconectada de seu contexto. 
Em terceiro, me fazem pensar que tudo aquilo que hoje é considerado 'agressivo' de alguma forma, mas que fizeram e fazem parte de escritos de outros tempos, deva ser proibido ou mesmo reformulado nos moldes do que pensam os que sugeriram a proibição da história de Monteiro Lobato. Uns exemplos? Vejamos, o que dizer do 'preconceito social' agregado ao nome de um dos personagens de "A Dama e o Vagabundo"? E as tentativas de assassinato na historinha da Branca de Neve? E o abandono de incapazes em "João e Maria", bem como o canibalismo sugerido pela bruxa? E o cárcere privado ao qual Rapunzel era submetida? E a máxima do momento: o bullying ao qual o Patinho Feio sofreu em quase toda a sua existência?
   Apenas chego a uma conclusão: o que incomoda, por uma razão ou por outra, deve ser debatido / questionado / analisado em sala de aula, remetendo a literatura do passado aos nossos dias. Entendendo que a época, o contexto cultural e a localização espacial também fazem parte do texto e, a partir daí, fazer paralelos com a nossa realidade.

Em homenagem a Monteiro Lobato, apresento uma latinha de porquinho. Na verdade, é uma porquinha, como uma mera alusão ao Marquês de Rabicó:


2 comentários:

  1. Concordo com voce. É preciso analisar o contexto da história e debater as diversas percepções para o que haja crescimento.
    Quero mais...
    Donha

    ResponderExcluir
  2. Paula querida,
    Como vc já sabe, concordo totalmente com vc!!
    E não é com discriminações novas - essa contra o Lobato, por exemplo -, que se combate discriminações antigas, como a do racismo, que realmente existe no Brasil.
    Mas a OBRA do Monteiro Lobato não tem nada de racista e quem mais o critica nem sequer leu sua obra na infância (ou mesmo depois), o que é um absurdo! Mas coitadinhos deles... Perderam algo que foi especialíssimo na infância de muita gente!!!
    Quanto a porquinha que fez... Adorei!!!! O Rabicó cairia apaixonado!...rsrs
    Beijos...

    ResponderExcluir